Matriz de Santo Antônio – Tiradentes, Minas Gerais

No princípio do século XVIII, o paulista Lourenço Costa descobriu ouro em um ribeirão próximo à Serra do Lenheiro, na região central da província de Minas. Essa descoberta fez surgir pequenos núcleos de povoamento, dos quais o maior era o “Arraial Velho do Rio das Mortes”.

Após 1707, devido a divergências referentes à posse das terras, ocorreu a ‘Guerra dos Emboabas’, de bandeirantes paulistas contra “forasteiros” – que eram pessoas que chegavam lá oriundas de outras capitanias. Esses não-paulistas eram chamados de “emboabas”, e foram os responsáveis pelo surgimento do ‘Arraial Novo do Rio das Mortes’, próximo ao antigo. E a poucos quilômetros para leste, um outro arraial também surgira na mesma época: o “Arraial Velho de Santo Antônio”, posteriormente emancipado para “Vila de São José do Rio das Mortes” (1718), e finalmente batizado de “São José d’El Rei” (na mesma época o arraial vizinho também foi rebatizado para ‘São João d’El Rei’).

Em 1724 (mesmo ano em que se iniciou a construção definitiva da Matriz do Pilar na vizinha São João d’el Rei) foi instituída uma freguesia na vila de São José d’El Rei. No entanto, consta que a Irmandade do Santíssimo já era atuante no local, o que leva a deduzir que havia uma igreja fazendo as vezes de matriz, e que já era dedicada a Santo Antônio – o célebre franciscano nascido em Lisboa e falecido em Pádua.

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Torres da matriz e vista da Serra de São José

As informações sobre as primeiras obras de construção da matriz são praticamente inexistentes, pois nenhum documento anterior a 1730 chegou até os dias atuais. Sabe-se que foi a Irmandade do Santíssimo, que, como de praxe em todas as matrizes mineiras, se organizou para iniciar e conduzir as obras. Consta que em 1732 o templo já estava praticamente finalizado, ocasião em que foi solicitada a tradicional colaboração financeira da coroa portuguesa (um costume da época, já mencionado no histórico de outras igrejas aqui).

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A fachada da igreja conforme se vê atualmente foi remodelada em princípios do século XIX, com base em desenhos de Antônio Francisco Lisboa – o Aleijadinho. Ainda na parte externa, há os relógios das torres, que são de fins do século XVIII, e um relógio de sol em pedra-sabão (1785), obra de Leandro Gonçalves Chaves.

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Acerca do belo interior dessa igreja, o historiador German Bazin, indica que os altares da nave parecem ser de 1730, e mais antigos que a capela mor. De fato, junto ao arco cruzeiro há um retábulo dedicado a Nossa Senhora da Conceição que é talhado no Estilo Nacional Português, e o seu correspondente oposto – de São Miguel e Almas – possui uma combinação desse estilo com o chamado Dom João V. Os outros altares laterais são das Irmandades do Bom Jesus do Descendimento e Bom Jesus dos Passos – atribuídos a Pedro Monteiro de Souza – e das irmandades de Nossa Senhora do Terço e Nossa Senhora da Piedade – de autoria desconhecida.

O teto da nave central é em formato de caixotões, e reproduz símbolos eucarísticos e episódios do Antigo Testamento.

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Quanto à exuberante talha da capela mor, é obra do entalhador português João Ferreira Sampaio. O forro desta é atribuído a Antônio Caldas, e é feito em formato ogival com pintura dourada. Belamente emoldurados nas laterais há dois painéis ovais com cenas da vida de Jesus, e foram pintados por um certo João Batista, do qual pouco se sabe.
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Ao longo do século XVIII muitas obras de embelezamento e ampliação foram realizadas, e dentre essas se destaca a feitura de duas sacristias amplamente decoradas por Salvador de Oliveira, Romão Dias Cardoso e Manoel Victor de Jesus (artista mulato que também atuou em São João del Rei).

Um elegante coro também foi feito por volta de 1740, e um dos principais destaques daí decorrentes foi a encomenda de um órgão (1779) na cidade do Porto, Portugal. Esse instrumento chegou na matriz quase dez anos depois, quando foi instalado em uma moldura de autoria do entalhador Salvador de Oliveira, e revestida com pintura e douramento de Manoel Victor de Jesus (ano de 1798).

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Relógio de sol em pedra-sabão, de 1785

Após a instauração da República, a vila foi rebatizada em homenagem ao inconfidente que nasceu em uma fazenda da região, e que foi executado em 1792 – o Tiradentes. A cidade permaneceu por muitos anos estagnada economicamente, e, por ter escapado do ‘progresso’ – e, consequentemente, do crescimento desordenado – ficou preservada no aspecto visual, sendo atualmente uma das cidades mais belas de Minas.

Em alguns guias sobre Tiradentes consta que essa igreja é a ‘terceira mais rica em ouro no Brasil’. No entanto, não se sabe qual a medida utilizada para embasar tal afirmação, sendo que apenas nas visitas realizadas para montar este site foi possível constatar que, além da Igreja do Convento de São Francisco em Salvador e da Matriz do Pilar em Ouro Preto, há também a Capela Dourada (Recife), a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência (Rio de Janeiro), e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira (Bahia), que, ao menos visualmente, possuem superfícies douradas iguais ou superiores a esta matriz. Assim, pensamos que essa comparação acaba por desviar do real mérito dos construtores dessa igreja, que é o de, em uma época inóspita, e num local pequeno e distante do litoral, terem realizado uma obra com grau de requinte muito semelhante ao de construções contemporâneas europeias.

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REFERÊNCIAS:

– BAZIN, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958

– MOURÃO, Paulo Kruger Correa, As igrejas setecentistas de Minas, Belo Horizonte: Itatiaia, 1986

– TIRAPELLI, Percival, Igrejas Barrocas do Brasil, São Paulo: Metalivros, 2008

IPHAN

Sobre o Órgão da Matriz

 

9 comentários sobre “Matriz de Santo Antônio – Tiradentes, Minas Gerais

  1. Gostaria de agendar o casamento de minha filha na Igreja São João Evangelista / Tiradentes .
    Como proceder para o contato?
    Obrigada, Carlice Souza

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      1. Muito mal organizado, o padre não faz visita pastoral, aliás, nem pastoral tem na paróquia

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  2. Olha fui a primeira vez com alguns turistas,fomos muito mal recebidos na igreja por uma senhora grossa que não sabe informar nada mas falta de educação ela sabe eu acho que ela fica na igreja do pra maltratar as pessoas.que decepção.

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  3. Cobrar pra entrar e ser maltratado pela senhora que fica vigiando lá, grossa sem educação, não sabe conversar só sabe gritar com os turistas ,olha que ainda paguei 5,00 pra entar na igreja.

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  4. Nasci e vivo em Tiradentes-MG, pesquiso sobre pinturas e os tetos pintados da Matriz de Santo Antônio foram tema de minha tese de doutoramento, defendida na Escola de Arquitetura da UFMG. Essa é uma das mais belas edificações do Brasil colonial. Vale ser visitada com calma. A indústria de casamentos aqui é muito forte, mas eles ocorrem na Matriz e na Capela de Nossa Senhora do Rosário.

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  5. A Igreja mais bonita do Brasil. Há outras muito bonitas, sem duvida, mas esta é elegante e sem exageros!

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Comentários

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