No ano de 1860, moradores de São Paulo fizeram um abaixo-assinado requerendo à Câmara Municipal a construção de um templo em honra a Santa Cecília (virgem e mártir que viveu nos primórdios da Igreja) e também em honra a São José. Na mesma época, um terreno havia sido doado para essa finalidade, na região oeste da vila, próximo à rota de quem saía da cidade em direção à zona cafeeira de Campinas.

No ano de 1861, foi depositada a pedra fundamental, e foi construída no local uma capela provisória, de madeira, dotada de corredores laterais e um altar principal. Passou a ser conhecida como “Capela de São José e Santa Cecília”.

Essa capela subsistiu por onze anos, pertencendo à freguesia (paróquia) de Nossa Senhora da Consolação. No ano de 1880, pessoas do povo fundaram uma irmandade com o intuito de promover a construção de uma nova igreja, e então foi edificada uma segunda igreja, ‘construída com todas as regras da arte’.

A paróquia foi criada em 1895, e o primeiro vigário foi o Padre Duarte Leopoldo e Silva – que futuramente seria o primeiro arcebispo de São Paulo. Ele permaneceu lá durante 6 anos, organizando os fundamentos da paróquia, e foi também durante esse tempo que ele idealizou a construção de uma igreja definitiva.

Os anos se passaram, o bairro cresceu, e foi o terceiro pároco, Paulo Pedroso, que conseguiu mover mundos e fundos para terminar de vez a igreja, que foi definitivamente inaugurada em 1901 e ficou sendo uma das mais bonitas de São Paulo.

Para uso na liturgia, foi adquirido um órgão de tubos, e um dos sinos da antiga igreja da Sé também foi levado para lá – foi um dos primeiros a tocar em comemoração à proclamação de Independência do Brasil.

Entre 1907 e 1917, o famoso pintor Benedito Calixto trabalhou na decoração interna, desenhando o altar mor, e pintando várias telas, além de dois murais que representam cenas da vida de Santa Cecília. Também na pintura interna atuou o artista Oscar Pereira da Silva e o decorador italiano Catani, que revestiu as paredes e cúpulas com simbologia católica e temas florais.

Nos arcos da galeria superior, além de estarem retratados alguns bispos do início da diocese paulistana, há diversas representações de papas que viveram nos primeiros tempos da Igreja.

Uma relíquia inestimável

Quando a cidade de São Paulo foi elevada a arquidiocese (1909), Dom Duarte foi a Roma, e recebeu de presente do Papa São Pio X uma preciosa relíquia: um pedaço do crânio e cabelos de Santa Donata, uma jovem que viveu no século II da Era Cristã (mesma época em que viveu Santa Cecília), e que é lembrada no Martirológio Romano juntamente com Santa Paolina e outras cinco companheiras – todas mártires.

Os referidos restos mortais foram encontrados em uma catacumba por volta do século VII, e a primeira menção que se conhece a essas santas mártires é do “Liber de locis sanctis martyrum“, escrito na mesma época. O culto a Santa Donata e companheiras foi oficializado pelo Papa Adriano I, por volta do ano 780, e, por concessão de São Pio X, seus restos mortais foram trazidos para a igreja de Santa Cecília, onde foram entronizados em uma urna para veneração permanente. A ossatura foi revestida com uma imagem de cera, mas os cabelos permanecem expostos.

Abaixo, murais representando cenas da vida de Santa Cecília, de autoria de Benedito Calixto.

Os vitrais que embelezam a igreja são de origem alemã. Abaixo, Santa Adelaide, imperatriz do Sacro Império.

Abaixo: os vitrais da capela mor representam exclusivamente figuras de mulheres santas (clique sobre a foto para ampliar).

 

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REFERÊNCIAS:

– ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo. São Paulo: Livraria José Olympio Editora, 1954

– PHILIPPOV, Karin. A obra religiosa de Benedito Calixto de Jesus através do mecenato de Dom Duarte Leopoldo e Silva na Igreja de Santa Cecília (tese de doutorado) – Campinas: UNICAMP, 2016.

– Arquidiocese de São Paulo

– Paróquia de Santa Cecília

– Santiebeati.it