Matriz do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio – Recife, Pernambuco

os primórdios: A paróquia primitiva de recife e seu desmembramento

O antigo “bairro do Recife”, onde nasceu a atual capital pernambucana, teve suas primeiras habitações edificadas ainda no século XVI. Na época, o local era denominado “Arrecifes”, e era sede da Freguesia de São Frei Pedro Gonçalves. Ali existia uma pequena capela em homenagem a São Pedro Gonçalves Telmo – ou simplesmente ‘São Telmo’ – um frade medieval que foi capelão do rei Fernando III de Castela. Após sua morte e canonização, passou a ser considerado como protetor dos navegantes, o que justifica a existência dessa devoção no local onde existia o porto recifense.

A capela subsistiu durante todo o tumultuado período da invasão holandesa, tendo sido abandonada e depois reedificada, permanecendo durante muitos anos como a principal paróquia recifense.

Na segunda metade do século XVIII, devido ao crescimento da população, e com a necessidade de distribuir melhor o público nas celebrações, planejou-se um desmembramento da freguesia em duas igrejas.

Então, a antiga igreja de São Pedro Gonçalves foi reedificada, passando a ficar conhecida como Matriz de São Pedro Gonçalves do ‘Corpo Santo‘ – este último nome sobreveio após a chegada de uma bela imagem do Senhor Morto, que passou a ser ali venerada pelos fiéis, e que, com o passar dos anos, acabou alterando o nome da igreja para simplesmente Matriz do Corpo Santo. A Irmandade do Santíssimo Sacramento, por sua vez, adquiriu um terreno onde havia um antigo depósito de pólvora, na região do bairro de Santo Antônio (na outra ilha), e iniciou os planos de construção de sua própria igreja.

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Igreja Matriz do Corpo Santo, em princípios do século XX

Infelizmente, a Matriz do Corpo Santo, que tinha a fachada ornada de pedra de lioz, foi demolida em 1913, devido a ‘remodelações’ urbanas no local.

A Matriz do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio

A segunda igreja construída em decorrência da fragmentação da freguesia de São Pedro Gonçalves, permanece intacta até hoje, e é conhecida como “Matriz do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio”.

Com suas obras levadas a cabo pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, teve sua pedra fundamental depositada em 03 de junho de 1753. O título adicional em honra a Santo Antônio se deu devido ao local onde ela foi construída: o bairro de Santo Antônio, que, por sua vez, recebera esse nome em alusão ao convento franciscano que ali já existia.

No ano seguinte ao início das obras, o Santíssimo Sacramento seria oficialmente entronizado no local, muito embora as obras não estivessem prontas.

A igreja seria concluída no ano de 1790, época em que a confraria se instalou de forma definitiva em suas dependências. Cinco anos depois tornou-se efetivamente uma matriz.

Acima, foto antiga do bairro de Santo Antônio, em Recife, podendo-se observar as duas torres da Matriz do Santíssimo Sacramento (com bulbos brancos). Abaixo, outra visão do mesmo local, quando já haviam começado as demolições para abertura de uma avenida (a igreja aparece no canto direito).

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Sua imponente fachada, edificada no apogeu das igrejas setecentistas de Pernambuco, é uma das mais belas da cidade, e seu movimentado frontão é ornado com um ostensório de pedra, símbolo da irmandade que edificou o templo.

No interior, trabalhou o entalhador Mestre Felipe Alexandre da Silva, e a douração dos altares foi realizada por Manuel de Jesus Pinto

No forro da nave central, bem como nas laterais, permanecem as pinturas feitas no início do século XIX, por Sebastião da Silva Tavares.

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Ao longo do século XX, sob o pretexto de ‘progresso’ e ‘modernização’, as autoridades públicas recifenses promoveram um verdadeiro processo de vandalismo cultural no entorno da igreja, ocasião em que foi aberta a avenida Dantas Barreto, com a consequente demolição de diversos edifícios históricos e construção de diversos prédios funcionais ao redor.

Mas, apesar da matriz ter ficado externamente prejudicada pela degradação visual do entorno, o fato de estar em uma localização central foi determinante para que permanecesse como um dos principais centros de piedade na capital pernambucana.

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REFERÊNCIAS:

– Bazin, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958

– Barbosa, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Ed. Fundo Educativo Brasileiro, 1983

– Guerra, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife:Fundação Guararapes, 1970

– VAINSENCHER, Semira Adler. Recife, bairro. Pesquisa Escolar OnLine, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/&gt;. Acesso em:02/02/2016

 

 

 

 

 

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