A cidade histórica de Cachoeira situa-se às margens do Rio Paraguaçu, no recôncavo Baiano, e consta que foi fundada no século XVI por Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Mas foi somente após a implantação de um engenho de açúcar, pertencente à família Adorno, que o lugar começou a ter uma crescente presença portuguesa. Junto a esse engenho, ainda no final do século XVI, foi edificada uma pequena capela, dedicada a Nossa Senhora do Rosário.
Até a primeira metade do século XVII, foram frequentes os conflitos com os indígenas, e até mesmo com invasores de outras nacionalidades (holandeses), e somente a partir de 1654 a paz reinou de forma mais permanente no local. Foi João Rodrigues Adorno que, nessa época, reconstruiu o engenho e a igreja, e passou a desenvolver o local.
Com a construção de um segundo engenho, a população do entorno começou a aumentar. Nessa época, foi criada uma freguesia consagrada a Nossa Senhora do Rosário, mas as datas encontradas não são precisas: segundo a arquidiocese de Salvador, foi criada em 1695, porém, há um marco comemorativo na própria igreja que indica a criação da freguesia como sendo em 1674. O fato é que em 1693, uma Carta Régia instituiu oficialmente aquela que seria a “Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira do Paraguaçu“, que não tardou a crescer, dada a sua posição privilegiada no entroncamento de importantes rotas que se dirigiam ao sertão baiano, ao Recôncavo, às Minas Gerais ou a Salvador.
A igreja primitiva do engenho – que fazia as vezes de matriz – ficara pequena para a população, e decidiu-se construir uma outra maior, localizada na parte baixa da vila. Com a edificação do novo templo, a capela original continuou existindo, mas mudou de nome, passando a ter como padroeira Nossa Senhora da Ajuda, ao passo que a nova matriz recebeu o orago de Nossa Senhora do Rosário.

Acima: igreja de Nossa Senhora da Ajuda, de fins do século XVI, que pertenceu a um engenho e foi a primeira matriz de Cachoeira.

A nova matriz foi erigida em uma parte mais baixa da cidade.
Para a construção dessa nova matriz, João Rodrigues Adorno – senhor de engenho descendente dos pioneiros da povoação – doou um terreno e uma grande quantia em dinheiro. Os registros indicam que construção efetiva somente se iniciou em 1740, mas o historiador francês German Bazin ressalta que essa igreja possui um traçado semelhante ao da Matriz de São Bartolomeu de Maragogipe e ao da igreja de Santo Antonio da Barra em Salvador – motivo pelo qual ele afirmou que essa matriz deve ser pelo menos de princípios do século XVIII. De qualquer forma, é certo que as obras demoraram várias décadas.

A matriz de Cachoeira possui duas torres com coroamento piramidal revestido de azulejos.
Acima, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, e abaixo, detalhe dos pórticos.
Um fato relativamente comum na construção de várias igrejas brasileiras do período colonial era a solicitação de um donativo ao próprio rei para término da capela-mor – a parte mais nobre da igreja. Tal costume parecia ter mais a finalidade de prestigiar o local do que propriamente decorrer de falta de recursos. Assim, em 1747, D. João V, Rei de Portugal doou oito mil cruzados para a construção da capela-mor e sacristia da matriz do Rosário de Cachoeira.
Internamente, a matriz do Rosário de Cachoeira é revestida de uma enorme coleção de azulejos, que foram fixados entre 1750 e 1760. Este é considerado o maior conjunto de painéis de azulejos portugueses fora de Portugal.
Os altares laterais são em estilo rococó, e o altar-mor e os dois colaterais do cruzeiro são em estilo neoclássico. A decoração da nave, incluindo os púlpitos, coro e tribunas é em estilo rococó e segundo Bazin sua talha se inspira na Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira.
Acima, Nossa Senhora e São Domingos de Gusmão. Abaixo, capela do Santíssimo Sacramento.
A pintura do forro da nave é do tipo ilusionista de influência italiana, e tem como autor o pintor José Joaquim da Rocha, o mesmo artista que embelezou diversas outras igrejas baianas, dentre elas a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador.
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REFERÊNCIAS:
– Bazin, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958
– OTT, Carlos. História da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Cachoeira. Centro de Estudos Baianos, Salvador, 1978.
– IPHAN
Deslumbrante !!!!! Maravilhosa….O revestimento com painéis de azulejos portugueses, além de ser único, e de nos deixar paralisados diante de tanta beleza…o sentimento é de chorar !!!!!!!!!
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Há uma Informação incorreta: o maior conjunto de azulejos portugueses em um único templo está na verdade na Igreja dos Montes Guararapes, perto de Recife, que é também o maior conjunto de azulejos seiscentistas fora de Portugal.
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Realmente, essas informações de ‘maior’, ‘mais alto’, ‘mais antigo’, quase sempre são equivocadas….No entanto, essa igreja é bem maior que a dos Guararapes, e se sobrepuser os painéis, tem chances de ser verdade…
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