Matriz do Bom Jesus do Monte – Distrito de Furquim – Mariana, Minas Gerais

Essa igreja foi sede de uma das mais antigas freguesias (paróquias) de Minas Gerais, e sua história remonta a fins do século XVII, quando Antônio Furquim da Luz, partindo da região onde surgiu Mariana, desceu mais algumas léguas o Ribeirão do Carmo e descobriu jazidas de ouro já próximo do ponto onde este curso d’água se encontra com o Rio Gualaxo.

O ‘Arraial dos Furquim’ e a Freguesia do Bom Jesus do Monte

Após conseguir uma sesmaria no local, Antônio Furquim da Luz veio a construir o ‘Arraial dos Furquim’, no qual não tardou a edificar uma capela em honra a Cristo sob o título de “Bom Jesus do Monte”.

No ano de 1706 foi instituída como freguesia, e em 1724 recebeu um vigário permanente (colado). A freguesia tinha várias capelas filiais nos povoados do entorno, e possuía uma jurisdição territorial bastante ampla, abrangendo até a região de Viçosa (antiga Santa Rita do Turvo). Assim, por ter surgido quase juntamente com Mariana, Furquim é uma das mais velhas freguesias mineiras.

O pioneiro Antônio Furquim viveu ali durante muito tempo, mas o ouro obtido não lhe assegurou uma vida muito tranquila: ele passou por diversas dificuldades, que incluíam escassez de alimentos, revoltas de escravos e conflitos com índios dos arredores. O historiador Diogo de Vasconcelos conta que essa série de problemas levou o já idoso fundador do arraial a retornar para São Paulo, no ano de 1728.

Mesmo após a partida do seu criador, o Arraial dos Furquim continuou com muitos habitantes que se igualavam em posses com os que moravam em Mariana.

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Casario de Furquim

A Matriz do Bom Jesus do Monte

Foi nesse contexto que decidiu-se pela edificação de uma nova igreja, ou, pelo menos, pela ampliação da que já existia. A menção mais antiga a essa obra é de 1745, e consta que, a partir de 1767, houve ainda uma nova obra de reedificação.

A fachada dessa matriz é sólida e bem acabada, sendo ornada de cantaria nas janelas, pórticos e base das torres. No largo em frente, há um belo cruzeiro papal, que provavelmente é de meados do século XVIII, sendo uma raridade não só em Minas, como em todo o Brasil (na região, há uma outra situada na igreja do Padre Faria, em Ouro Preto). Essa cruz de três braços (um a mais do que nas cruzes patriarcais ou arquiepiscopais) simboliza as três atribuições do papa (sacerdote, pastor das ovelhas de Cristo e legislador), e é geralmente utilizada nos brasões pontifícios.

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No seu interior, a igreja possui uma bela talha, na qual teria trabalhado o artífice José Pereira Arouca, bastante conhecido por suas obras em Mariana. Inclusive, um documento de 1782 informa que a Rainha de Portugal, Dona Maria I, mandara pagar a esse artista uma determinada quantia por obras na Matriz do Bom Jesus do Monte de Furquim – provavelmente em observação ao costume de que uma parte da igreja, por questão de prestígio do local, fosse financiada diretamente pela coroa.

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Furquim chegou inclusive a ter estação ferroviária de passageiros – que foi posteriormente desativada, devido ao sistemático sucateamento do transporte público sobre trilhos no Brasil. Atualmente é um distrito pacato, que guarda ainda o traçado irregular das ruas da época colonial. Ali, sob as bênçãos do Bom Jesus do Monte, sua população segue acolhedora e sempre presente, e sua primorosa e bem cuidada igreja matriz é o melhor testemunho da fé, do bom gosto artístico e da importância que o local já teve.

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REFERÊNCIAS:

– MOURÃO, Paulo Krüger Correa, As igrejas setecentistas de Minas, Belo Horizonte: Itatiaia, 1986

– VASCONCELLOS, Diogo. História Antiga das Minas Gerais, Itatiaia, 1974

Sociedade Musical Nossa Senhora da Conceição de Furquim

Colaborou: Alexandre Mendes de Almeida

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