Igreja de Nossa Senhora da Soledade – Goiana, Pernambuco

A cidade pernambucana de Goiana é um dos mais antigos núcleos de povoamento do Brasil, tendo sido sede da capitania hereditária de Itamaracá, e elevada à ‘freguesia’ no ano de 1568. Ao longo do século XVII, tornou-se polo de diversos engenhos de açúcar.

Durante a invasão holandesa, a região foi palco de diversos confrontos, sendo que um dos mais memoráveis ocorreu em 1646, quando mulheres defenderam sozinhas o vilarejo de Tejucopapo de um ataque-surpresa dos holandeses, e os repeliram sem o auxílio de seus esposos e filhos, que, por sua vez, estavam enfrentando os batavos em campo aberto e não haviam conseguido retornar a tempo. O fato ficou marcado na história do Brasil (pouco divulgado, infelizmente), e as mulheres ficaram conhecidas como “Heroínas do Tejucopapo“.

Construção da Igreja e recolhimento

Mais de um século depois, por volta de 1750, havia na região um ermitão chamado João da Soledade, que, juntamente com um certo Alexandre de Souza, decidiu construir uma igreja e um estabelecimento para abrigar e educar mulheres – um recolhimento. A ideia foi abraçada por mais pessoas, e, sobre um terreno doado pelo capitão-mor José Camelo Pessoa, iniciou-se a construção do complexo religioso. A data citada como de fundação do recolhimento é de 1753, e a do término das obras é 1755.

Significado do orago

A igreja foi dedicada a Nossa Senhora da Soledade, provavelmente por uma devoção pessoal do ermitão que idealizara a igreja. O culto a Nossa Senhora da Soledade é bastante antigo, e consiste em considerar a Virgem Maria especialmente no momento após a crucifixão e morte de seu Filho, ocasião em que esteve envolta em solidão e saudade. Essa devoção propagou-se na Península Ibérica durante os séculos XVII e XVIII, e, no caso de Goiana, se mostrou acertada ao dar nome a um recolhimento, local que muitas vezes abrigava mulheres viúvas, esposas de maridos que viajavam, órfãs, ou simplesmente que eram colocadas lá por seus pais para viverem em oração e serem educadas.

Aspectos arquitetônicos e artísticos

A igreja é bastante simples e despretensiosa em seu interior, sendo dotada de três altares. Há ainda hoje no local uma roda dos expostos – um cilindro giratório inventado na Idade Média que permitia recolher esmolas e até mesmo receber recém-nascidos rejeitados, sempre mantendo o anonimato.

Exteriormente, a fachada da igreja apresenta uma transição de estilos, e o historiador German Bazin chama a atenção para a singularidade do frontão, que ornamenta não apenas o corpo central da igreja, mas também se estende suavemente sobre as duas galerias laterais.

Fachada da igreja da Soledade, em um antigo postal de autoria de Benício Whatley Dias

Foto antiga da igreja da Soledade, em um postal de autoria de Benício Whatley Dias

O recolhimento funcionou até cerca de 1850, quando o capuchinho Frei Caetano de Messina fundou em Pernambuco a Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho. A partir de então, o local foi transformado em um convento propriamente dito, e passou a ser habitado apenas por freiras.

Atualmente funciona um abrigo para idosos nas dependências da igreja.

igreja soledade goiana

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REFERÊNCIAS:

– BAZIN, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958

goianadoscaboclinhos.com.br

Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho

 

 

 

 

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