Na primeira metade do século XVIII, a região das ‘Minas Novas’, no norte de Minas Gerais, atraiu aventureiros devido à descoberta de ouro em alguns rios. Formou-se então o núcleo intitulado ‘Vila do Fanado’, e algumas léguas ao norte, a ‘Santa Cruz da Chapada’, cuja igreja matriz foi apresentada em outro post. Ambas povoações eram vinculadas à Capitania da Bahia, e após 1757 passaram para a juridição da Capitania de Minas Gerais, cuja capital era Vila Rica (atual Ouro Preto).
Na povoação da Chapada, não tardou a ser formada a “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Libertos e Cativos, da Freguesia da Santa Cruz da Chapada”.
A capela dessa irmandade foi construída em taipa de pilão, e apesar de ter um exterior bastante simples, possui uma decoração interna de rara beleza, com profusão de cores.


O retábulo mor foi entalhado no estilo barroco da modalidade ‘nacional português’, com colunas torsas e arcos concêntricos ornamentados com folhas de videira e cachos de uva. A utilização desse estilo denota que essa parte da capela já existia na primeira metade do século XVIII.

Detalhes da ornamentação do retábulo mor.
Seguindo também um costume de algumas outras igrejas do Norte de Minas, há arcadas nas laterais da capela-mor, cujas colunas, ornamentadas com pinturas de guirlandas e mascarões, emolduram paredes decoradas com cenas da infância de Jesus.

Acima, o Nascimento de Jesus e a Adoração dos Pastores; ao lado, a Adoração dos Reis Magos. Abaixo, a apresentação do Menino Jesus no Templo (direita), e Jesus entre os Doutores da Lei (esquerda).

O arco cruzeiro é revestido de madeira, também ornamentado com diversas pinturas, sendo ladeado por dois retábulos, provavelmente já da segunda metade do século XVIII, um deles dedicado a São José e o outro a São Gonçalo.


Detalhes de pinturas do arco cruzeiro: acima, a Fuga para o Egito, e abaixo, Nossa Senhora entrega o Rosário a São Domingos de Gusmão e Santa Rosa de Lima. Além destas, há também gravura ilustrando o sacrifício de Abraão.

Abaixo, sacrário ‘simulado’ do retábulo de São Gonçalo.
Acima, vista geral da nave, e abaixo o púlpito.
O naturalista francês Auguste de Sainte-Hilaire esteve em Chapada do Norte no início do século XIX, e mencionou que ainda havia lavras de ouro em funcionamento, sendo que a população na época era de cerca de seiscentos indivíduos, “que, quase todos, são mulatos, e vários deles, entregando-se à agricultura, só vêm à povoação aos domingos“.

Abaixo, bandeira atualmente utilizada nas festividades do Rosário.

REFERÊNCIAS
SAINTE-HILAIRE, Auguste de, 1779-1853. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 2000
Luis Gustavo Molinari e Ailton Batista da Silva, Guia de Bens Tombados do IEPHA-MG
Agradecimentos: Maurício Aparecido Costa (Secretário de Cultura e Turismo de Chapada do Norte)
Texto e fotos: Plinio Lins B. Veas






