No ano de 1710, um terreno situado perto da Ponta de Montsserrat, em Salvador, foi doado por uma senhora portuguesa – Dona Lourença Maria – para a Ordem de São Francisco. A condição para essa doação era de que ali fosse erigida uma igreja e um abrigo para doentes, e que, cinco vezes ao ano, nela fossem celebradas missas na intenção da doadora e de sua filha.
Após receber o terreno, o capítulo da ordem franciscana decidiu, no ano de 1712, construir ali a igreja e uma residência em forma de ‘hospício’ (na época, o termo ‘hospício’ era usado para designar lugares onde tratavam doentes em geral – como os hospitais atuais). Por ser hospício, o prédio deveria ser provido de varandas e amplas janelas.
Como padroeira da igreja, escolheu-se a invocação de Nossa Senhora da Boa Viagem – uma devoção portuguesa muito comum na época das navegações, e que venera a Virgem Maria enquanto protetora dos navegantes. Essa foi a primeira igreja do Brasil a receber esse orago.
Assim, nas primeiras décadas do século XVIII iniciou-se a construção daquele que ficaria conhecido como Hospício de Nossa Senhora da Boa Viagem. Nas linhas gerais do edifício, é possível perceber alguma semelhança arquitetônica com a igreja do Convento de São Francisco, também em Salvador: revestimento de azulejos, torre com bulbo em forma de pirâmide, e principalmente o formato do portal.

Azulejos do frontão, contendo o brasão da ordem franciscana

Cruzeiro em frente à igreja
O interior da igreja possui uma capela-mor ornada com um belo altar de arquivoltas, em estilo nacional português. As paredes são revestidas de azulejos, colocados na forma de ex-votos, feitos para agradecer travessias marítimas bem sucedidas. Os dois altares laterais são um pouco posteriores (cerca de 1720), e foram talhados no estilo “Dom João V”.
A nave da igreja foi modificada em tempos mais recentes, para ampliar a capacidade de pessoas, e os antigos corredores foram transformados em naves laterais. Tal modificação se deveu sobretudo à grande quantidade de fiéis que visitam a igreja em épocas festivas, principalmente quando a igreja recebe a célebre festa do Bom Jesus dos Navegantes.

Local onde fica guardada a galeota do Bom Jesus dos Navegantes
Essa celebração ocorre desde o ano de 1750, no dia 1º de janeiro, e consiste em uma grande procissão de embarcações, que partem da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia e atravessam parte da baía até a igreja da Boa Viagem.
Atualmente, a igreja está sob os cuidados dos padres da Congregação da Paixão de Cristo (passionistas).

Azulejos da capela-mor, contendo ex-votos de travessias marítimas bem sucedidas
REFERÊNCIAS:
– Bazin, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958
– Falcão, Edgar de Cerqueira; Relíquias da Bahia; Salvador, 1940